REPRESENTAÇÕES, DESENHOS E IMAGENS DO TERRITÓRIO

“O TRAÇO E A SAÚDE”,
por
Júlio Machado Vaz

30 de maio de 2022, 18h30,
Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, Auditório do Pav. Sul

Vasco Cardoso dá as boas-vindas a JÚLIO MACHADO VAZ.
O que terão em comum nomes tão diversos como Vitruvius, Hipócrates, Vesálio, Florence Nightingale e
Le Corbusier? Para mim, professor de Antropologia Médica, o facto de terem pensado a relação entre o binómio Saúde/Doença e os Espaços. Fossem eles naturais, desenhados, projectados e construídos ou apenas alucinados. Na realidade, desde a evolução dos equipamentos hospitalares à compreensão da Psicologia Ambiental, a organização dos espaços vem ganhando cada vez maior importância nos aspectos especificamente clínicos e no desenvolvimento de políticas transversais de Educação para a Saúde, que em absoluto pressupõem o empoderamento dos cidadãos em geral. Quem imaginaria que doentes internados em quartos debruçados sobre a Natureza tendem a necessitar de pósoperatórios
mais curtos do que os instalados em divisões interiores? Que influência tem a parafernália tecnológica na arquitectura hospitalar? Que desafios nos coloca o envelhecimento das populações dos países mais desenvolvidos? As respostas implicam outro tipo de espaço – o psicológico, alimentado por Saberes distintos que dialogam em pé de igualdade.
Júlio Guilherme Ferreira Machado Vaz, 72 anos de idade, licenciado em Medicina e Cirurgia pela Faculdade de Medicina do Porto. Especialista em Psiquiatria pela Ordem dos Médicos. Professor Auxiliar a título definitivo do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, onde regeu a disciplina de Antropologia Médica.



PAISAGEM: MÉTRICA E ESTÉTICA
HELDER MARQUES 

9 de maio de 2022, 18h00 
Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Sala Orlando Ribeiro

Luís Paulo Saldanha Martins apresenta 
HELDER MARQUES.

A paisagem é uma entidade ontologicamente diferente da natureza. Só em parte dela deriva, mas é, no essencial, uma construção ou reconstrução resultante do pensamento humano. A natureza é, em si, sincrética, enquanto a paisagem só existe pela mediação humana que lhe confere, a partir dos sentidos e da cultura, ordem, desordem ou emoção.

As paisagens não são a realidade, mas apenas a imagem formatada e conceptualizada dela. Uma paisagem também não é um território, porque este incorpora invisibilidades e movimentos que não têm forma. A paisagem não. Podemos perscrutar nela bastantes coisas do ponto de vista heurístico, mas não temos como não ficar por aqui.

A paisagem não é apropriável do ponto de vista disciplinar. Não se deixa escrutinar por visões pretensamente holísticas, porque encerra e incorpora uma métrica e uma estética.

As paisagens são esteticamente qualificáveis e, embora nela reine mais o caos que a ordem, podem ser repugnantes, agressivas, carregadas de fealdade, ou belas (no sentido clássico) e sublimes (Longino / Kant).

Não há paisagens iguais, porque mesmo que homólogas, são sempre irrepetíveis, ainda que possam ser tipificáveis. São invariavelmente compósitas, instáveis e fugidias, até porque as variáveis que a podem definir ou que a definiram, compareceram em tempos diferentes, ou assumiram modalidades distintas.

Mas também há paisagens invisíveis que respondem a desígnios não necessariamente consubstanciáveis, sobretudo aquelas que nunca vimos, nem que nunca existirão a não ser na liberdade criativa da nossa mente. A isso chama-se arte.

Helder Trigo Gomes Marques é professor associado da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, instituição onde se licenciou em Geografia em 1980. Obteve o grau de Mestre pela Universidade de Coimbra em 1985, com a dissertação «A região demarcada dos vinhos verdes, ensaio de geografia humana», obra que viria a constituir um dos eixos estruturantes do percurso científico do orador. Em 2000, com a tese «Modernidade e inovação na ruralidade do Noroeste de Portugal» obteve o grau de Doutor pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, reforçando a vocação pelo estudo dos, agora designados, territórios de baixa densidade.

No seu percurso profissional destaca-se ainda, na gestão académica, a presidência do Departamento de Geografia e a Vicepresidência da Faculdade de Letras, enquanto na investigação e extensão universitárias a intervenção como membro da Associação Portuguesa de História da Vinha e do Vinho, bem como o envolvimento marcante em projetos de investigação do Departamento de Geografia, a exemplo do projeto «Território e dinâmicas urbanas: atlas das cidades do Norte de Portugal (ACINP)» ou «A revisão da lei eleitoral portuguesa: delimitação territorial de círculos uninominais de Candidatura», constituem referências incontornáveis do currículo do professor Helder Marques. Mais recentemente, orientou os domínios de investigação para a “dinâmica ecológica da paisagem”, em particular da “paisagem rural”, e para o património, enquanto componentes basilares do saber eclético do geógrafo e orador convidado.

 



Marta C. Lourenço apresenta  GALOPIM DE CARVALHO.

O alastramento das cidades e de todas as formas de ocupação do território natural, visando uma multitude de equipamentos inerentes à sociedade humana, destroem e ocultam para todo o sempre documentos valiosos da história da Terra e da Vida. São os geossítios, alguns com dimensão e importância monumental, que importa defender e valorizar.

Galopim de Carvalho é professor catedrático jubilado pela Universidade de Lisboa, onde se licenciou em Ciências Geológicas, 1959. Doutorou-se em Sedimentologia pela Universidade de Paris, em 1964, e em Geologia, pela Universidade de Lisboa, em 1968. Lecionou nos Departamentos de Geologia, 1961 a 2001, e de Geografia, 1965 a 1981, da sua universidade.

O Orador Convidado é autor de 21 livros científicos, pedagógicos, de divulgação científica e de ficção ou memórias.

É autor de mais de mais de 200 trabalhos científicos publicados em revistas da especialidade e mais de 150 artigos de opinião em defesa da Geologia e do património geológico. Galopim de Carvalho integrou a Comissão Oceanográfica Intergovernamental da UNESCO, entre outros organismos nacionais e internacionais, colaborou com os Serviços Geológicos de Portugal e criou o Laboratório de Sedimentologia do Centro de Estudos Geográficos, do Instituto de Geografia da Faculdade de Letras de Lisboa, o qual dirigiu de 1965 a 1981.

O nosso convidado é Prémio Bordalo da Casa da Imprensa (1994) e Grande Prémio Ciência Viva Montepio (2013), tendo recebido o Doutoramento Honoris Causa, pela Universidade de Évora, em 2018.

Galopim de Carvalho foi, durante 11 anos, diretor do Museu Nacional de História Natural, onde nos encontramos.

Cá, dirigiu diversos projetos de investigação nas áreas da Paleontologia dos Dinossáurios e de Geologia Marinha. Além de ser Investigador e Professor, Galopim de Carvalho tem um papel central na comunicação e divulgação de ciência, utilizando para tal toda a variedade de meios e formas de comunicação.



A Universidade do Porto e a Fundação para a Ciência e a Tecnologia
apresentam, no âmbito da Unidade Curricular InovPed
REPRESENTAÇÕES, DESENHOS E IMAGENS DO TERRITÓRIO
e do projeto de investigação DRAWinU, um Ciclo de Conferências Abertas da responsabilidade dos Departamentos de Desenho da FBAUP, Vasco Cardoso, Geografia da FLUP, Mário Gonçalves Fernandes, Engenharia Civil da FEUP, Carlos Rodrigues.

Nesta terceira edição do Ciclo de Conferências Abertas, continua-se a firme vontade da dinamização de leituras
transversais sobre o território. Em 2022, a Geografia e a Fotografia, a Geologia, a Vinha e o Vinho, a Cartografia e o
Design e a Antropologia Médica trarão a debate as suas perspetivas, atentas às interpretações e aos usos do território
na sua dualidade de entidade formada e formadora.
Trata-se de um programa de cinco conferências de livre acesso proferidas por cinco Oradores Convidados que
apresentarão e debaterão, desde o seu campo de atividade e apoiados em peças gráficas, as representações que
existem, ou se constroem, sobre o território,
São dois os propósitos destes eventos. Em primeiro lugar, visa-se semear nos Estudantes contributos para a fundação
e desenvolvimento dos seus próprios projetos de construção gráfica acerca do território. Em segundo lugar, dentro da
Terceira Missão da Universidade do Porto, pretende-se divulgar e cativar o cidadão para a importância do território,
enquanto espaço comum, partilhado, através do conhecimento das representações que cada um tem e projeta,
individualmente ou em grupo.
As Conferências Abertas decorrerão entre abril e maio, em vários espaços da cidade do Porto e também em Lisboa.